O EMBUSTE
Meu irmão,
Deixa-me chamar-te meu irmão,
Afinal devemos ao mesmo germen a Vida,
Das águas primigéneas, da mesma bactéria primeva,
da mesma evolução com saltos
E da mesma igual vontade universal de sobreviver.
Iguais não somos,
A menos que hajas trabalhado a vida toda para outros
Que connosco lucraram.
A menos que te hajas indignado
E que às vezes a cólera te fez gritar
Inexplicável te pareceu então a injustiça.
Ainda que não hajas lutado contra os opressores
Ou sido castigado pelas justas rebeldias, és meu irmão.
Irmãos pela Vida original e iguais pelas vidas comuns.
Sabes irmão e meu igual, andamos tristes
Quando, afinal, deviamos andar felizes,
Quero dizer com uma vida boa como o Filósofo disse o que era a Felicidade.
Mas é assim a diferença que se criou
Entre os que possuem finança e armas
e aqueles que não possuem nem uma coisa nem outra.
Tu acreditas irmão e meu igual, que foi o destino
Ou a má sorte?
Tu crês no que dizem : é a diferença de cores,
De inteligências, de força de trabalho?
Tu crês, meu irmão, que nestes dias natalícios
Com tantos votos de amor e harmonia
Todo o mundo se redime por palavras
E toda a caridade acaba com a pobreza
E os que não nos permitiram uma vida boa
É agora que os sentarão à mesma mesa?
És ingénuo ou estúpido meu irmão?
És cobarde ou bravio?
Não,
Não me dês a tua mão a medo,
A tua fé em milagres sobrenaturais
As tuas superstições
Os teus preconceitos
As tuas perignações
Ao vazio dos silêncios.
Deixa-me que te diga, irmão,
Que na verdade
Tudo que nos une, nos separou,
E sempre foi esse o demónio real.
Ó irmão, irmão,
Nem sabes como eu me entristeço
Quando te vejo tirar o chapéu ao patrão!
Mas enfim, que viva o natal!
Que regurgite a caridade!
Que se este mundo vai mal
Em algum lugar esconderam a verdade!
E é só nisso que acredito:
Que esta História foi um embuste,
E um dia acordaremos para a realidade!
........NOZES PIRES.......23/12/2023